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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Oriente Médio: conflito religioso ou político?


Lejeune Mirhan *

No final do século 19, surge um movimento político forte, que defendia abertamente que os judeus tivessem um lar nacional, uma terra onde pudessem viver em paz, com os seus, falar a sua língua, pois eles viveram espalhados pelo mundo, em guetos como na Alemanha e na Polônia. Foram segregados. Sonhavam com a volta para uma terra que um dia viveram no passado.

Foi assim que, num Congresso Sionista Judaico, realizado em 1897 na Basiléia, Suíça, essas ideias tomaram corpo e passaram a ser implementadas. O grande líder dessa corrente de pensamento foi Theodor Herzl que defendia ardorosamente o Lar Nacional Judaico. Chegou-se a discutir onde esse lar pudesse ser instalado em nossa Amazônia, assim como na Argentina ou Uganda na África. Mas chegou-se a conclusão, por ampla maioria, que somente uma terra teria a força, com base na religião, de atrair um povo ou parte dele, que era a Palestina, onde os ancestrais dos atuais judeus de fato viveram por um tempo.

Ora, o que é essa proposta senão um projeto colonial? É o chamado nacionalismo judaico. É certo que uma parte dos primeiros colonos que emigraram para a Palestina, nas primeiras décadas do século 20 eram socialistas e tinham influência marxista. Suas ideias de montar os Kibutzim, que são espécie de fazendas coletivas, tinham como base a coletivização de toda a produção. Tal projeto sensibilizou, inclusive, alguns líderes comunistas e revolucionários em determinada época, que acabaram por apoiar a criação de Israel em 1947.

A migração judaica foi intensa e incentivada pelas grandes potências que tinham todo o interesse em criar um enclave seu em meio a um vasto território habitado por árabes e, desde o começo do século XX, já haviam sido confirmadas as grandes jazidas petrolíferas na região. Isso motiva o redesenho do mapa na região. Países foram artificialmente criados, como o Kuwait, atendendo única e exclusivamente aos interesses coloniais.

Aos palestinos, que viviam sob a ocupação britânica (de 1922 a 1948), restou sempre a luta. Contra o colonizador inglês, contra o novo colonizador, que eram os nacionalistas judeus que buscavam suas terras. Algumas delas foram, é verdade, compradas em ouro, em moedas aceitas na região, em libra esterlina, a moeda do comércio internacional da época. Mas, em sua grande maioria, essas terras foram expropriadas, tomadas à força e seu legítimo dono foi expulso.

Essa expulsão vai ficar mais explícita mesmo em 15 de maio de 1948, quando da proclamação por Ben Gurion, do Estado judaico, autorizado a ser criado pelas Nações Unidas em 29 de novembro do ano anterior. Esse dia é conhecido como Al Nakba (que em árabe quer dizer o Dia da Desgraça). Estima-se que pelo menos dois milhões de palestinos foram expulsos de suas terras (hoje são quatro milhões que ainda vivem fora da Palestina e que lhes é negado o direito ao retorno, diferente da Lei do retorno, que garante, automaticamente a todo judeu vivendo em qualquer parte do mundo a sua volta à Palestina, hoje Israel).

Assim, meus caros leitores, não acreditem que o conflito é religioso. Podemos dizer que ele tem componentes religiosos, mas é essencialmente político, de luta pela terra, enfim, um projeto colonial, imperialista. Por isso estamos com os árabes e palestinos.


*Lejeune Mirhan é Presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo Sociólogo, Escritor, Arabista e Professor, Membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa, Membro da International Sociological Association, Colunista do Portal Vermelho sobre Oriente Médio e Colunista da Revista "Sociologia" - Editora Escala

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