Stela Grisotti é a diretora do documentário “A Chave da Casa”, exibido no 14º Festival É Tudo Verdade. O longa, também dirigido por Paschoal Samora, relata dois momentos na vida de um grupo de refugiados palestinos: as últimas 48 horas que antecedem a vinda ao Brasil no campo de Al Rweished e após nove meses, a adaptação a nova realidade.
Minutos antes da exibição do filme, a diretora fala com nossa equipe no lançamento oficial do documentário em São Paulo. Com exclusividade, ela conta os desafios e dificuldades em se filmar os impactos da guerra na vida deste grupo.
Perspectiva Oriente: Stela, como surgiu a idéia de fazer um documentário sobre refugiados palestinos?
Stela Grisotti: Na verdade o projeto original deste documentário era sobre refugiados de guerras contemporâneas que vivem no Brasil, não só palestinos. Aí eu inscrevi este projeto no edita “Janela Brasil” que é da Secretária de Cultura do Estado, TV Cultura e Sesc TV e quando eu ganhei o prêmio eu comecei a fazer uma pesquisa sobre refugiados e neste meio tempo eu descobri que tinha este grupo de palestinos que estava vindo para cá. Aí a equipe decidiu focar neles, até porque eles representam muito a questão dos refugiados no mundo. Aí a gente decidiu ir pra lá, no campo de Al Rweished na Jordânia para encontrá-los e documentar as últimas 48 horas deste grupo que veio pra cá.
Perspectiva: A equipe era em quantas pessoas?
Stela Grisotti: Nós somos em 4 pessoas.
Perspectiva: Foram as quatro pessoas para lá?
Stela Grisotti: As 4 pessoas.
Perspectiva: E quais foram as maiores dificuldades encontradas pra gravar lá?
Stela Grisotti: Foram muitas. Primeiro a gente demorou muito tempo pra conseguir autorização do Governo da Jordânia pra poder entrar no campo, o campo era policiado e obviamente o Governo da Jordânia não queria mostrar onde estavam estes palestinos, até porque 70% da população da Jordânia é palestina. Então era uma situação bastante complicada. A gente conseguiu a autorização uma semana antes de ir para o campo e é a 5 horas de Amã, ou seja, a gente teve um vôo São Paulo/Paris, Paris/Amã, depois de 5 horas de viagem. A gente pegou o Ramadã lá então o alojamento do Acnur, que é o órgão da ONU para refugiados, estava fechado. Então teve um dia que a gente foi de Amã até Al Rweished, voltamos para Amã e no outro dia voltamos pra Al Rweished. E a gente tinha horário pra entrar e pra sair. A pessoa que ia ser nosso intérprete, que era uma brasileira, teve que ir pra fronteira com Iraque pra buscar os familiares de uma refugiada que estava vindo pra cá e a gente ficou sem intérprete, ou seja, eles falavam em árabe e a gente, português. Mas no fim a gente conseguiu entender, não sei como, mas conseguimos fazer o que a gente queria.
Perspectiva: Houve algum tipo de resistência ou receio por parte dos entrevistados?
Stela Grisotti: Teve. Teve um deles que lá mesmo não queria, a gente o convenceu e quando ele chegou aqui ele não quis fazer, porque a gente fez em duas partes. A parte lá e depois nove meses aqui. Ele não queria, a gente teve quatro encontros com ele para no último encontro ele concordar e viajar com a gente. Eles tem medo de represarias porque as famílias estão lá , eles não querem que a gente fale o nome, muitos não querem ser fotografados. Então a gente encontrou resistência, não de todos mas de alguns.
Perspectiva: E o que vocês pretender mostrar com o filme para a sociedade brasileira?
Stela Grisotti: É... Acho que vendo o filme acho que fica bem claro assim, mas... Na minha opinião, a gente vive num planeta , que é global. O que acontece em um lugar está muito ligado um com outro, não só na questão da natureza, do meio ambiente, mas nas relações econômicas, nas relações políticas, sociais e humanitárias. E pelo fato de eles estarem aqui, eu acho que também é uma possibilidade de nós como brasileiros aprender com eles muito com o que eles tem pra contar pra gente. A gente ouve, lê, vê na TV, lê nos jornais sobre estas guerras, mas é tudo muito distante, né? O fato de você estar com eles, convivendo com eles, você consegue entender melhor todo este conflito. E também, eu queria muito assim...humildemente até falando que através deste filme, eles façam debates e pudessem ajudá-los a conseguir trabalho, a entender melhor o drama que os palestinos vivem, não só no Brasil mas no mundo todo né? Então, eu espero poder contribuir com este trabalho para isso.
Perspectiva : Obrigada, Stela.
Stela Grisotti: Imagina.
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