Informação objetiva

Obrigado por nos visitar e volte sempre!!!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Arte como crítica social


A equipe do Perspectiva Oriente entrevistou Carlos Latuff, cartunista brasileiro, reconhecido mundialmente por suas charges carregadas de crítica social. Tanta polêmica e criatividade trouxeram ao artista alguns inimigos: já foi preso para averiguação após representar em seus desenhos a violência e corrupção policial, já foi supervisionado pelo Pentágono e ameaçado virtualmente pelo partido israelense Likud.
A causa Palestina sempre está presente em seus trabalhos. Aliás, a ilustração de nossa capa foi gentilmente cedida por ele.
Ativista artístico, anticapitalista, trabalha na imprensa sindical e não dá bola para a grande imprensa.

Por: Juliane Almeida

Perspectiva- Latuff, quando você começou a desenhar e quando percebeu que seria essa sua profissão?
Latuff- Desde criança. Mas meus pais nunca acreditaram que eu pudesse viver do meu trabalho, já que pra ser artista é preciso QI (Quem Indica) e a gente não tinha parentes ou amigos influentes. Mas acabou rolando, por uma conjunção de fatores, basicamente sorte e esforço pessoal. Quem abriu as portas pra mim foi a imprensa sindical, para qual trabalho até hoje com muito orgulho.

Perspectiva- A crítica social sempre esteve presente em seus trabalhos? Por que escolheu esta vertente?

Latuff- Foi o caminho natural de alguém que nunca lidou muito bem com a autoridade, seja em casa ou fora dela. Da rebeldia juvenil até a indignação adulta, passei a perceber que a charge poderia cumprir um papel importante como denúncia e apoio às lutas sociais e políticas.


Perspectiva- A Palestina é um dos ou o principal tema apresentado em seus trabalhos. Qual a sua relação com eles para que haja esta identificação?

Latuff- Uma viagem que fiz aos territórios ocupados no final de 1998, a convite da ONG Palestinian Center for Peace and Democracy, me colocou a par de como o povo palestino vive sob Reich israelense. Impossível não abraçar a causa depois de conhecer gente comum vítima cotidiana da violência de colonos e soldados israelenses. Como foi o caso do senhor Adris, que guardava em sua carteira os dentes que lhe foram quebrados a golpe de coronha de fuzil, e cuja filha tinha cicatrizes de queimaduras pelo corpo, resultado do ataque de colonos judeus que atiraram coquetéis molotov pela janela de sua casa. Mais do que uma questão humanitária, eu tenho verdadeiro amor pelos palestinos.



Perspectiva- Você já teve problemas com a polícia após criticar a violência policial e foi supervisionado até pelo Pentágono. Você costuma receber represálias?

Latuff- Represálias não são tão comuns, mas por três vezes na vida tive de comparecer a delegacias por fazer desenhos sobre a violência e corrupção policiais no Rio de Janeiro. A polícia é assunto tabu no Brasil. Você pode ser morto por denunciá-la. Meus sites são visitados constantemente por organismos de segurança pelo mundo, por conta de meu apoio público aos palestinos e iraquianos.


Perspectiva- Acha que a arte é uma ferramenta para uma transformação social? Sua arte tem este objetivo de mudança?

Latuff- Penso que a arte pode converter horas de discurso político numa única imagem. É a maneira mais rápida de atingir consciências. Espero que
meu trabalho seja útil para as pessoas como a munição é para o guerrilheiro.


Perspectiva- Com o novo governo dos EUA você acha que terá alguma mudança positiva em relação ao Oriente Médio?

Latuff- Acho que a melhor resposta pra isso é a charge ao lado.


Perspectiva - Acredita que a criação de dois Estados é a melhor solução para o conflito Israel X Palestina?

Latuff - Não creio que Israel deseje qualquer solução. O governo israelense ganha mais com o sofrimento dos palestinos. Enquanto houver território ocupado, haverá o conceito de inimigo externo que justifica os bilhões de dólares que Washington envia para o regime de Tel-Aviv todos os anos. A solução virá, certamente, mas não será por obra e graça dos israelenses. Israel tem as armas, mas os palestinos tem o tempo.

Nenhum comentário: